Pra rua a pedalar. Em memória do Igor Gabia

Por Sabrina Duran, Blog Na Bike

À revelia da falta de estrutura cicloviária, da falta de segurança, da violência, da omissão do poder público – de cada um dos seus setores;
à revelia da maldade gratuita das finas, dos xingamentos, das buzinadas, das ameaças, das tentativas de assalto, dos roubos, dos furtos;
à revelia da falta de fiscalização, de punição dos criminosos, das decisões frouxas de juízes que tratam assassinatos e mutilações como acidentes de trânsito e engrossam, assim, o caldo onde se criam novos assassinos e mutiladores;
à revelia da boçalidade das SUVs com um único passageiro, do consumismo, da carrocracia, da redução do IPI do automóvel, da velocidade sempre incompatível com o ritmo natural da vida;
à revelia da morte por nada, da morte pelo material, que é nada, da morte besta dos jovens, dos velhos, dos bons e dos inocentes – sobretudo dos jovens bons e inocentes;
à revelia da tristeza que drena toda a nossa força quando um dos nossos vai
embora;
à revelia de tudo isso que nos intimida, é preciso ir pra rua e continuar pedalando.
É preciso ocupar o espaço que é nosso.
Porque se a gente não ocupa, a barbárie ocupa, e a intimidação se amplia, se ramifica e se enraíza, se sedimenta e se legitima, vira política pública, manchete de jornal, capa de revista, até que um dia o medo vence.
E justo o medo, que consegue ser pior do que a morte do corpo, porque mantém a gente vivo pra ter o gosto de nos matar um pouco mais a cada dia.
Pra rua a pedalar.
Em memória do Igor Gabia.