Homenagem ao ciclista Francisco Vidal

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Sábado dia 28 de junho de 2014 foi instalada ghost bike na EPTG em homenagem ao ciclista Francisco Vidal, atropelado por motorista que trafegava em zigue-zague na EPTG às 7:40 do domingo dia 22 de junho.

O presidente da ONG Rodas da Paz, Jonas de Oliveira Bertucci, escreveu e leu este texto no momento de instalação da ghost bike:

Ao Francisco Vidal, esposa, filhos, amigos e familiares.

Prezado Francisco,

Não nos conhecemos pessoalmente, porém tínhamos uma paixão em comum, o único vínculo que me faz estar aqui hoje e me permite tomar a liberdade de dizer algumas palavras em sua homenagem: a bicicleta.

Nenhum de nós gostaria de estar aqui agora, mais uma vez pendurando uma bicicleta branca, por mais uma morte que poderia ter sido evitada.

A primeira sensação ao ver seu corpo sendo enterrado, como me relatou uma de nós, foi de frustração por nossa incompetência. Como pudemos permitir que mais uma vida fosse perdida? Será que nossa luta tem sido em vão? O que estamos fazendo de errado?

Nós falhamos de novo. Sabíamos o que deveria ser feito, mas não fizemos. Tínhamos todos os números, dados e estudos diante dos olhos e decidimos mais uma vez ignorar o bom senso e a razão, permitindo o avanço de um projeto que todos sabem ser insustentável.

Essa via, a EPTG, é um dos maiores exemplos do nosso fracasso. Como pudemos, nós cidadãos de Brasília, permitir tamanha falta de bom senso?

Não é preciso uma reflexão muito complexa para chegar a essa conclusão. O Código de Trânsito e as inúmeras leis que foram escritas para garantir a segurança no trânsito e incentivar a construção de uma cidade para pessoas são tratados magníficos, mas que, infelizmente, permanecem no papel.

A lei que deveria obrigar o planejamento de ciclovias nos projetos rodoviários, bem como nas estradas em fase de construção, tem sido totalmente ignorada.

Mesmo as novas ciclovias padecem de erros graves. Buracos, bloqueios, descontinuidades, falta de iluminação e de sinalização. As travessias das pontes e as ligações entre as cidades mais carentes do DF são negligenciadas.

Campanhas educativas? Só depois da conclusão das obras, intermináveis. O sinal de PARE em Brasília é voltado para o ciclista, sem absolutamente nenhuma indicação para que os motoristas lhe ofereçam a preferência. Afinal, o mais seguro talvez seja não sair de casa.

As rodovias de mais alta velocidade e maior número de mortes, não apenas a EPTG, mas vias como a EPIG, EPIA, EPGU, EPNB, Estrutural, entre tantas outras, não são prioridade.

É claro que as leis são fundamentais, mas ainda são insuficientes para mudar a nossa realidade.

Diante de mais uma tragédia, é difícil se reestabelecer. Certamente haverão muitas e novas promessas. Será que com o passar do tempo mais uma vez as promessas serão esquecidas e permanecerão no papel? Será que em 6 meses ou 1 ano, as mesmas desculpas como
“O ótimo é inimigo do bom”.
“Melhor fazer mal feito do que não fazer.”
Ou algo sobre “a lentidão da máquina estatal”
serão novamente apresentadas para justificar a nossa incompetência e omissão?

Será que a importância da participação popular no planejamento e na formulação de projetos que afetam a vida de todos nós será mais uma vez desprezada?

Meu caro Francisco, nada justifica a sua partida desse mundo e, por isso, pouco podemos fazer para consolar os seus próximos a não ser não desistir. Qualquer morte é inaceitável enquanto soubermos o que ainda falta fazer e não fizermos.

Espero que seu nome não seja esquecido, que cada um (seja ele ciclista, motorista ou pedestre; político, gestor público ou cidadão comum), que cada um tenha consciência da responsabilidade que tem em mudar essa realidade.

E que possamos encontrar novos caminhos para não repetirmos os erros do presente.

Em nome de todos da Rodas da Paz