Redução dos limites de velocidade: o que você precisa saber sobre isso

1. Por que reduzir os limites de velocidade? 

A redução dos limites de velocidade das vias urbanas é uma medida que vem sendo cada vez mais adotada em todo o mundo como forma de reduzir as mortes no trânsito e humanizar as vias. A medida ajuda a melhorar a fluidez do trânsito e torna a cidade mais acessível a todos.
Velocidade mais baixa significa mais incentivo aos meios sustentáveis de deslocamento, como caminhar, pedalar ou utilizar o transporte público, possibilitando segurança, conforto e fluidez nos trajetos.

Ruas com velocidades menores favorecem o compartilhamento da via entre motoristas e ciclistas, facilitam a travessia de pedestres e permitem que crianças brinquem nas ruas como costumavam fazer até tempos atrás. Com menos pressa, a gente convive mais, cria mais empatia, e percebe mais o que ocorre ao nosso redor.
A cultura da velocidade motorizada faz parte de um modelo de urbanização onde as ruas são apenas parte do caminho, e nunca ponto de parada e convivência. Essa ideia faz sentido para estradas, mas não cabe para as vias urbanas, onde o conceito de ruas completas é muito mais adequado do que o de via expressa.

2. Essa ideia  tem base em algum estudo?

A redução dos limites de velocidade nas vias urbanas é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), fundamentada nos estudos mais atuais sobre trânsito e na experiência concreta de cidades como São Paulo, Curitiba e Fortaleza.

Em um atropelamento a 64km/h, 85% dos pedestres atingidos morrem e nenhum sai ileso. A 32km/h, 5% morrem e 30% sobrevivem ilesos. O gráfico e o vídeo a seguir mostram como uma velocidade menor é a diferença entre sobreviver e morrer em um atropelamento.

Ademais, menor velocidade significa maior tempo de reação por parte do motorista e de todos os usuários – o que é decisivo para se evitar uma colisão, além de uma menor distância de parada do veículo após a freada.

3. Mas reduzir os limites de velocidade não vai criar congestionamento?

Pelo contrário, quanto maior é a velocidade dos carros maior é a distância necessária entre eles, o que significa que a 80km/h cabem menos carros na pista do que se eles estivessem a 50km/h, como se pode ver pelo gráfico abaixo. Portanto, em velocidades menores, a capacidade da via aumenta, fazendo com que um número maior de veículos circule no mesmo período de tempo, permitindo melhor distribuição do fluxo e evitando a formação de gargalos e afunilamentos em pontos de estreitamento de pistas, por exemplo.

O que de fato cria os congestionamentos é o excesso de veículos e as interrupções na fluidez muitas vezes causados pelas colisões que a alta velocidade traz. Diferentemente, a redução da velocidade máxima faz muitas vezes com que a velocidade média da via aumente, como ocorreu em São Paulo, nas vias Marginais.

4. Só reduzir a velocidade resolve?

Reduzir os limites de velocidade é importante mas deve ser acompanhado de outras medidas. Um comportamento comum de motoristas é dirigir acima da velocidade e apenas frear quando há fiscalização por pardal ou blitz de agentes de trânsito. Para se garantir um limite de velocidade compatível com a vida urbana é preciso mudar o desenho viário de nossas cidades, incluindo elementos de moderação de tráfego nas vias (balões, lombofaixa, canteiros, etc).  A redução dos limites de velocidade é uma medida que deve ser acompanhada também de ações educativas, para as pessoas entenderem que não se trata de “indústria da multa” ou medida arrecadatória, e sim medida de segurança para toda a população. Não existe indústria da multa, existe uma cultura de conivência com a alta velocidade nas vias, muito estimulada pela indústria automobilística através da publicidade.

5. Algum outro país reduziu velocidade máxima da via que impactou positivamente no número de mortes no trânsito?

Sim. A redução da velocidade máxima da via em diversos países como África do Sul, Estados Unidos, França e Nova Zelândia, entre outros, resultou em uma redução das colisões de 8% a 40% nos anos recentes. Nos EUA, por exemplo, entre 1987 e 1988, 40 de seus estados elevaram o limite de velocidade nas rodovias interestaduais de 88 km/h para 104 km/h. No mesmo período, houve um aumento de 20 a 25% no número de mortes nessas vias, segundo o documento de referência da Organização Mundial de Saúde (OMS) “Gestão da Velocidade“.

O Brasil é um dos países com a maior taxa de óbitos no trânsito no mundo e a redução dos limites de velocidade é uma das ações mais importantes para combater esse grave problema.