Jogando assim, todo mundo perde.

A Rodas da Paz vem declarar seu repúdio ao uso da violência pelo Estado ocorrida em diversas cidades do país neste final de semana, inclusive em Brasília, onde a ONG atua. Esta ação foi desrespeitosa ao direito de manifestação, uma conquista fundamental assegurada pela Constituição. As expressões populares que estamos testemunhando são pacíficas e seus diferentes objetivos, legítimos.

Qual será o legado de mobilidade urbana da Copa do Mundo para a nossa cidade e para o país? Entre outros efeitos, essa realização provocou mudanças em nossas leis. Além do sucesso para o investimento das grandes corporações e a promoção institucional dos governos, o que fica para os cidadãos? Que prioridades essenciais para a qualidade de vida em nossas cidades deixaram de ser contempladas para a realização desse grande evento privado?

Mané Garrincha – Seriam necessárias 3.500 vagas para bicicleta (sendo 1.000 vagas vip na área interna) para que o estádio receba, com legitimidade, o título de “sustentável” (LEED). Isso ajudaria a incentivar que, pelo menos, 5% dos 70.000 torcedores pedalassem para ver o jogo, ganhando tempo, reduzindo o fluxo de veículos e preservando o ar da cidade. Também seria um posicionamento fundamental para a viabilidade da bicicleta como política pública em todo o DF. No entanto, apenas 200 vagas são oferecidas hoje para bicicleta, sem controle e sem segurança especial. E a ciclovia não chega até o estádio.

“Manual do Torcedor” – Está escrito “utilize o transporte público e aproveite para fazer um passeio a pé com a família e os amigos. É mais saudável e você ainda ajuda a melhorar o trânsito”. A campanha publicitária que anuncia os jogos diz: “deixe o carro em casa”. Porém, a operação especial de transporte deveria envolver aumento da frequência de trens no metrô e linhas de ônibus. Também a requalificação das calçadas e dos projetos de acessibilidade precisam ser priorizados. Como atravessar o Eixo Monumental? Além disso, a política cicloviária não tem levado em consideração os deslocamentos da população até os locais onde seriam mais importantes estruturas para bicicletas, como o centro da cidade, shoppings, setores comerciais, locais de trabalho e centros de cultura.

Eixão do Lazer – Contrariando o discurso apresentado, uma das primeiras medidas do GDF foi a abertura do Eixo do Lazer para os carros. Isso levou a Rodas da Paz a realizar um abaixo-assinado e a mobilização #OcupaEixão (assine aqui). O gesto ameaça o símbolo já tradicional de convivência humana na cidade de arquitetura modernista, apenas para garantir fluidez de veículos particulares. Precisamos de mais “eixos do lazer” em todas as cidades do DF.

A Rodas da Paz é solidária, sobretudo, às vítimas em cidades como São Paulo e Brasília, atacadas no âmago do espírito democrático, que cumpre ao Estado defender. Só na capital do Brasil foram mais de 30 pessoas detidas, das quais 9 eram adolescentes, e houve o que entendemos como perseguição ao grupo “Brasil e Desenvolvimento”, cujos nomes e rostos vêm sendo expostos gratuita e desrespeitosamente na mídia.

Enviamos um abraço especial para Brasília, pela manifestação emocionante realizada ontem, dia 17, na qual estivemos presentes. As manifestações precisam prezar o diálogo, sem excessos e sem vandalismo. Entendemos e apoiamos a diversidade de pautas, embora a causa da mobilidade urbana – nosso tema de trabalho cotidiano há uma década – tenha sido o motivo principal da nossa adesão.

A rua é o lugar de todos nós: ciclistas, motoristas, pedestres, brasileiros de todos os times. Para a rua é que precisamos levar, cada vez mais, esse urgente e importante debate sobre mobilidade urbana como direito de todos os cidadãos. É na rua que a cidadania acontece. Sem ela, quem leva gol é a democracia – e todo mundo perde.

Rodas da Paz
Junho de 2013
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